Estava deitado a uns minutos, a deriva num mundo profundo e obscuro. Quando abri meus olhos e levantei, tudo em minha volta tinha um cinza brilhante, quase azul. Tsc... abri um sorriso atônito. Olhava pra vela e via o movimento do fogo. O encontro da luz com o vidro formava padrões de cores que se abriam como arco Iris na minha direção, arco Iris que se mexiam. Todo o cenário era de uma beleza divina, um quarto semi escuro com quatro velas, uma musica sufi tocava ao fundo. Tive que rir. Ri de mim mesmo e das minhas reações, ri do tamanho da beleza do mundo, ri por não saber comunicar de nenhuma outra forma o tamanho do meu deslumbramento. O quão elementar e belo o mundo pode ser, e ele sempre o era pra mim, mas ali, era como se eu simplesmente não pudesse negar. E eu estava em casa. Tive que ir lá no fundo de mim mesmo para descobrir que eu não precisava temer, ninguém julgava meus atos, eu podia ser a vontade. Ficar a vontade na vida, no meu corpo, no meu mundo, no meu jeito.
Não temer esse mergulho, enfrentá-lo de peito cheio, me deu vitalidade, e o que mais me impressionou foi que quanto mais desapegado eu fui de encontro da experiência, mais receptiva ela foi comigo. Fui meticuloso na minha preparação, e desapegado na minha ação. Aos primeiros sinais de que estava partindo de mim mesmo, logo desisti de lutar. Deitei e me deixei levar para onde ele quisesse me mostrar. E eu me transformei em mundos de cor pulsante, de danças energéticas em tom neon. Sai e voltei de mim tantas vezes que perdi a conta, ate que resolvi ver o que tinha do lado de fora. Abri meus olhos e me deparei com outro mistério de igual tamanho. Senti na barriga que o corpo era o ponto de contato do infinito de dentro com o infinito de fora. Perdido no espaço e boquiaberto ou com um sorriso no rosto, eu me lembrei do sentido obscuro do caos.