terça-feira, 28 de outubro de 2014



- Está aqui! Sempre esteve!
- Como você sabe?
- Eu posso senti-la, no ar.
- Como sabes que não és só tu que a sentes?
- Não me importo...

...

- Sei dos lobos e dos cães.
- Que tem eles?
- Eles uivam, quando a lua se acheia.
- Então é o mesmo toque?
- Sim: a força que nos torce.
- Deus! Desaprendemos a uivar!

???????????!!!!!!!!!!!!!!!!!!!AAAAAAAAAA





Um pé que segue o outro
e a poesia:
foda-se.

A menos qu`eu a foda.

                     joga os braços pra cima!

ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ

     é a festa do corpo!

corpo sem futuro
bicho sem orgãos
orgonorgasmonismo

sai pra lá super-chato
que agora eu sou agora
todo ID sem comando
e pasme,
aperfeiçoada fera.

SÁI!

que não há depois
que redima-me desejos
sequer ato que os solucione:

sou todo,
à potência do que
rer que não comando.

SE

OF
ER
ID
OI
NT
ER
RO
MP
ID



domingo, 1 de junho de 2014

confesso


Sagrado papel
ainda que tu sejas
mais lento que a alma
e jamais capture
sua etérea pulsação
ouve meu relato:

Foi na compaixão radiada
que redimi minhas travessuras preferidas
já que há vertigem no universo de quem dança
é preciso amar as forças e os seres centripetos
submeter-se a seus caminhos.
Então a visão da beleza me agarrou -
óculos de venus explicitando a Graça -
um mundo onde não há o feio
nem no feio
e eu saúdo a justeza das coisas
de serem assim do jeitinho que são
mesmo mesmo quando temo perder-me
ou me encontrar horroroso.
Adorei quando aprendi a criar a vida
mas deixo que ela se crie sozinha
pra me puxar o tapete.
Estou fazendo tudo que posso
e com a melhor das intenções.
De resto,
caminhante perdido.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

mal-estar aqui

e já quero outro sítio

querer saber tanto de ti
quanto qualquer outro vício

sábado, 26 de abril de 2014

dos bosques

verde novo
panorama recriado
braços abertos
contra o sulco telúrico de um vale.

livrai-me do gosto de ferro
da densidade magna
da confusão que me engrossa

faz do negro alvo
pois ja estou no ponto do rubro
e perigo solar
no momento do coro.

pois se minha garganta ficou aspera
meus olhos gananciosos
meus versos pregos ou navalhas
e meus gestos golpes
é a ti que me-em-torno.

ver de novo
a gloria que se expande
em silente silêncio
pela vastidão de seus bosques
e quere-las pra mim
como se eu não pudesse mais fingir
que eles não são partes de meu corpo.

mato o que te quero meu
distancia que te faz meu motto
angústia de querer-te logo
nós urbanos
seres partidos de berço
filhos de adão
e da maçã-civilização

domingo, 23 de março de 2014

cristal

VENUS -
UMA MULHER BARBADA
ANDROGINA COMO O MEL DAS NOSSAS COXAS
A SEIVA DO QUE SOMOS
ALARGADOS, DESPIDOS
AGINDO PELOS ORGANICOS MOVIMENTOS DO DESEJO
AUTONOMOS E TEMPORARIOS COMO TODA REALIDADE

MINHAS COSTAS TRANSMUTADAS E LEVES
COMO QUE DESPIDAS DE SEU PESO ORIGINAL
ENERGIZADAS - GOZOSAS
E EU NÃO SERIA CAPAZ, AGORA
DE DIZER NADA QUE NÃO FOSSE UMA VERDADE SENTIDA
NADA QUE MEU CORPO GUARDE DISCORDANCIA OU MÁ OPINIÃO

ATERRADOS PELA BRUTALIDADE DA HONESTIDADE
PRECIPITAMOS ALCALOIDES DELICIANTES
NUMA POÇÃO SATURADA ATÉ A BOCA
ATE OS DEDOS E PES
UM LABORATORIO CORPO
ONDE SER E SABER SE CONFUNDEM

TAL QUAL NOSSOS CONTORNOS

quarta-feira, 19 de março de 2014

panacea saudade

eu que já estive tão longe
chocado pela melanciolia e solidão
percebo que nunca houve lugar para ir e
que nunca estarei distante de nada

num bar ouvi uma gargalhada
era uma amiga que se foi
o riso dilacerou meu peito
nunca senti ninguem tão presente

então eu sei
que nunca estarei separado
de nada nem ninguém
pois tudo que vejo sou eu
e seria desonesto não admitir
como me tornei-me intimo

domingo, 16 de março de 2014

numa ilha

para: M.E.

em uma praia
muito distante daqui
o peso da sua cabeça no meu colo
me embolo no gosto do seu jeito

como eu te quis
antes de te ter...
e agora você está aqui
sinto-me beijando-te desde que o universo nasceu
perdido em nossos deslizantes fluidos
deslumbrado pela harmonia de nossos ritmos

seu rosto é um diamante
inefável, irredutível
e no entanto você esta aqui
natural - relaxada

você

você floresce em mim
e quando vejo eu também
floresci ao seu lado
e o que eu sou agora
foi por um dia
ter bancado minha ousadia
de querer-te

aceitaremos seja o que for
num azul violeta
nas areias de Andaman
na beira do mundo
daonde os barcos despencavam
quando a terra ainda era plana
debruçados sobre nossa solidão

celebraremos
o nosso amor
de forma expansiva
pois o que brota não cessa
e tu me despertas
do pesadelo da história

daremos as mãos e olhando pro alto
perceberemos que de fato
estamos dependurados nessa pedra
flutuando no meio do espaço
e que tudo parece um pouco absurdo
só que sinto minha mão na sua
e penso que assim, lado a lado
talvez nem seja tanto.

terça-feira, 11 de março de 2014

nós


um sussurro secreto
confirmava o gozo que trocávamos
sorrateiros escondidos
nas rachaduras entre nossas cavernas
enquanto tudo explodia lá fora
toda vida explodia aqui dentro
os corpos se beijavam

o brilho
ele me capturou
ficou preso nimim
como um pedaço de purpurina
uma semana depois do carnaval

o amor
que me inclui
branco
brilho branco
mil faces acolhedoras

eu te quis
deusa do espaço
matéria etérea da libertação
e para te achar
fiz do meu corpo livre
aprendi a dizer sim

sou sutil
engrenagem do sentir
nascida para o único propósito
de receber seu toque
perceber nas areias no ventos
nas peles nas fabricas
que minha vida é um beijo
um longo e delicioso sexo

apaixonei-me por esse mundo
deixei de crer
na miséria da matéria
tornei-me o que me reconheci
uma gente selvagem
dentes mordentes numa orelha
dizendo com potência
phalando versos que serviriam como crimes

fazemos magia -
atos de pura vontade
exercitando o músculo que crê
em nossa habilidade de fazer
o que nos cabe e apraz
fazemos uns com os outros
fazendo nossos corpos vibração
do atrito das partes mais densas
fazemos orgulhosos
como crianças enamoradas
redimidos de qualquer opressão

por essa ousadia insisto:
faço
logo
existo.


quarta-feira, 5 de março de 2014

urba

eu vi meu corpo cidade
desejando essa imagem

desejando que meu peito
se torne uma agência de banco
para que eu possa quebra-la
num gesto agressivo
meio sem sentido
para quem não tem a energia necessária
para romper algo
devassar uma estrutura física
em nome de um rito

eu queria meu corpo alto
como os prédios da Rio Branco
tocando o céu com minha Húbris inebriada
enquanto eu mínimo ponto mítico
sou no meio desse chão

desejo a nudez da multidão
sangue pulsando sexo
exposta ferida múltipla
do gozo desse encontro
desse acaso de estarmos
todos vivos juntos
nesse espaço misterioso
pelo qual nos apaixonamos
esse que vai queimar
mas que não largamos
essa maldita deliciosa
a puta da Babilonya!
que nos move e nos aceita
nos torna prenhos de vida
expressões do eterno
emanentemente conectadas
em nossas orgias histórias
experimentos sobre o êxtase e a melancolia

desejo o meu corpo azul,
infinito vazio dos céus do verão do Brasil
um céu que vibra e oprime
céu de Xangô
céu de Glauber
céu em transe

desejo minha terra meu corpo
da cabeça aos pés
e cada uma de suas celebrações
pois quando a cidade celebra
meu corpo fica em festa
e tudo só faz sentido com vocês
sejam vocês quem forem

por isso meus pés comem ávidos seu chão
meus pés
seu chão.