quarta-feira, 5 de março de 2014

urba

eu vi meu corpo cidade
desejando essa imagem

desejando que meu peito
se torne uma agência de banco
para que eu possa quebra-la
num gesto agressivo
meio sem sentido
para quem não tem a energia necessária
para romper algo
devassar uma estrutura física
em nome de um rito

eu queria meu corpo alto
como os prédios da Rio Branco
tocando o céu com minha Húbris inebriada
enquanto eu mínimo ponto mítico
sou no meio desse chão

desejo a nudez da multidão
sangue pulsando sexo
exposta ferida múltipla
do gozo desse encontro
desse acaso de estarmos
todos vivos juntos
nesse espaço misterioso
pelo qual nos apaixonamos
esse que vai queimar
mas que não largamos
essa maldita deliciosa
a puta da Babilonya!
que nos move e nos aceita
nos torna prenhos de vida
expressões do eterno
emanentemente conectadas
em nossas orgias histórias
experimentos sobre o êxtase e a melancolia

desejo o meu corpo azul,
infinito vazio dos céus do verão do Brasil
um céu que vibra e oprime
céu de Xangô
céu de Glauber
céu em transe

desejo minha terra meu corpo
da cabeça aos pés
e cada uma de suas celebrações
pois quando a cidade celebra
meu corpo fica em festa
e tudo só faz sentido com vocês
sejam vocês quem forem

por isso meus pés comem ávidos seu chão
meus pés
seu chão.

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