terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Os últimos ritos



Um toque de veludo
a boca retorcida
o peito cheio de alfinetes
uma ansiedade calma
ou a placidez  de um furacão

A todos que vão
desejo sorte
sinto saudade
que descansem
ou despertem
se quiserem continuar
e vejam o novo
e o velho
com os olhos
de alguem que acabou
de viver uma vida inteira
e de tê-la pulsando
num peito que teve
num corpo de um jeito
que nunca mais será

E que o grande mistério lhes sirva
como uma luva
assim como
o corpo lhes servia
como mídia divina
para singular complexidade
materializada em atos
e afetos que marcaram a matéria.

Sinto aqui, no ar
no meu corpo elétrico
etéreo e efêmero
reverente à sua passagem.
Sinto em mim,
faz me sentir
como se eu estivesse simultaneamente
dentro e fora de minhas fronteiras táteis.

Rasgando o espaço
através do tempo
alterando e sendo alterado
entes inteligentes
com desenvolvidas marcas
Quando iniciam?
Quanto acabam?

O sujeito concreto
de carne, osso e opinião,
vê imenso
poder de vida liberado
quando toca o  outro lado
e sente o frágil poder
de ser encarnado
do tempo marcado
do segredo escondido de todo mortal:
o desfecho do drama,

a cortina final.

2 comentários:

Pietro disse...

"Resta esse diálogo cotidiano com a morte,
esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada,
ela virá me abrir a porta como uma velha amante
sem saber que é a minha mais nova namorada."

Luiza Gomes disse...

canções de bardo. bonito...