terça-feira, 2 de agosto de 2011

É um amor
tão profundo
que assusta.

Pela beleza
do afeto
perturba.

Pelo incontrolavel
fluxo do tempo,
assombra.

E já nasce
portador
de uma saudade do infinito.

terça-feira, 26 de julho de 2011

notas mentais

Isso é qualquer coisa
que me expurgue o tempo
ou amanse as ânsias.
Que me prive e prove
que a arte se ocupa
de depreocupar-nos
de angustia ou culpa.

Isso é qualquer coisa
que eu faço pra me distrair
enquanto o onibus cruza
a cidade.

=//=

A velocidade com que tudo se perde:
estranho e curioso lapso mental.

O mistério eterno do segundo perdido.
Um atmo que persiste,
que resiste não sendo.

Um instante inima(r)ginal

=//=

Um segundo de infinito
é espaço-tempo perdido.

=//=

Todo espelho que eu invento
é precedente desatento
para ver-me
nas mais terriveis cores.

Mas imagens me alimentam,
me propulsionam e aumentam
(ou só mudam)
o angûlo do que vejo.

E você, que me a-
trai
por sua natureza de reflexo
será que existes mesmo?

Ou será que a fantasia
é a mais forte das forças
que regem a mente do homem?

Haverá em cada encontro
algo mais rigido
do que um éter
de esperanças e planos?
Ou estamos condenados
a esse rede de acasos
coordenada pelo caos dos sonhos.

=//=

Hoje pela manhã tive um estranho contato
Ali: flutuando no éter
de minha privada inutilizada -

uma bosta espectral,
um cocô fantasma.

Ainda posso sentir o horror
e a maldição fecal-ancestral
daqueles dejetos astrais.

=//=

Haikai da posição do cadaver

Corpo leve e relaxado.
Entregue à própria eletricidade.
Carne de tântrico prazer prânico.

=//=

Aflito

É curioso.
Eu queria escrever uma canção folclórica,
um filme dois mil e um,
uma arte eternidade.

Eu queria na fita
um conflito com aquele monolito.
Registro de um atrito de se orgulhar

Mas confesso que de infinito
não conheço nada que não seja
o fantasma do mundo em suspensão
essa incerteza essencial.

Me posto humildemente
perante fatais fatos.
Nada persistirá: nem minha carne
nem meus atos.

Um dia, tudo se esquecerá
desse mundo mortal.

=//=

Certo, manhã, cá estou.
Me rendo a tua inexorabilidade.
Teu mistério ordinário, rotineiro,
tem um raro sabor de centro.
Tem gosto dos momentos
em que o que rasteja e o que flutua
se fundem em impensavel plenitude:
imensuravel presença.

=//=

Levo o mundo que habito
num bolso irrestrito
chamado mente.

=//=

Agora mesmo me peguei pensando
que dizia
ou pensava
algo de diferente.

Incrível como a
mente
mente.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

é um mistério silencioso
que eu nutro
o que nutre a mim

domingo, 1 de maio de 2011

haikai do oceano

sonho que fere
como lamina na alma.
Um pesabélo.

domingo, 24 de abril de 2011

Haikai do sopro

A Anima anima o corpo.
A alma da toalha que se move
na janela é o vento

sábado, 23 de abril de 2011

haikai de calmo renascimento

Sorriso em hora boba,
vazio cheio de esperança.
O coração vê futuro: estrela.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Enlouquecida de dor a Rainha da Floresta Negra pergunta

“Espelho, espelho negro
Existe morte que não nos teste o desapego?”

Ao que o espelho responde em impavida eternidade:

“Ó tola mortal,
ao falecimento nada é isento
ele é o mistério.
A vossa morte, essa sim,
será o seu teste final.”

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

me de mais amor



Se tomamos para amar,
tomamos pra curar.
Falamos fala boa
que comunica nosso afeto
redentor. Abraços plenos.

Também vemos
lembramos e esquecemos.
Nosso toque sacro-tange,
as beiradas se dissolvem,
recompõem-se, são fronteiras
de dois corpos que se gozam.

Vede, são fantasmas,
vultos das chagas antigas.
Vejam, no seu regojizo
o amor cura suas feridas.

Sente a violenta amperagem
desse puro ato de se dar
para uma emoção catártica
que filtra e foca
hipnotiza e realoca todo estar.