sábado, 11 de julho de 2015

24fps



A tua imagem, ela,
bela miragem projetada
a 24 quadros de separação.

Eu achei que eu era o mocinho
bidimensional como um sonho de acetato.
Marty Mcfly ou Indiana
eu queria uma mulher nota mil.

Curti a vida adoidado
nos labirintos da imaginação
num mundo dividido pela praga
na dimensão interior privada.
Foram guerras nas estrelas
só que ninguém mais soube.
Sobre o corpo que restava
repousava um manto
de dormencia e espanto.

Volver a meus 11 anos
o mundo era maior
dentro de mim do que fora
lembrar de um som era ouvi-lo
pensar no vento senti-lo
tocar uma pele
era distancia.

Na cerimonia do cinema
aflito flutuava e livido,
a vida como meio
demonstrava um atrito rigido.

Eu queria ver,
ver pra crer
com meus olhos
avidos à vida.
Visto que o invisivel
assim permanece ocluso
ganhei vidência
sobre os fantasmas da imanência.
Transcender como crime:
pisciano regime do asceta.

Tudo ali numa tela,
distante imatéria -
no corpo um engodo
com tempo e arrepio:
um desafio.
Matar o ideal da aventura,
de volta de um futuro
na prática impraticável
para um corpo e jogo
cheio de arestas.

A doce vida, ja não tão doce
mas, ó, tão doce,
a vida!

Meu primeiro amor
foi por uma aparição,
feitiço de aquila
que de dentro
não se pode desencantar.

Ainda vivo sua nostalgia,
veludo azul,
um sonho cinico se torna macabro:
enfim me apavora a aparencia
desprovida de essencia.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

(R)existência ∆




Eu não queria estar em Baltimore hoje
e no entanto é lá que estou
é la que estamos todos
encurralados entre a infinitude de nossa sombra
e a guturalidade do nosso desejo de mudança.

Entre as nuvens de fumaça
corpos ambulam em busca
movidos por inconscientes desejos
ou pelo habito de mover-se
vagando vagos
até que preenchidos
por idéia, anseios,
certezas, suspeitas.

E poderia ser eu ou você,
ou qualquer outro
e poderiam ser as ruas de Baltimore,
do cairo, de Rojava, de Kiev,
de Bangkok, do Rio, Ferguson,
tanto faz,
e você estaria lá
perdido no mar de informação
e uma violência que perpetua-se
e você já não sabe mais
quem está lutando
e nem porquê.

E o choque
o horror do choque
a beleza do choque
um mundo de possibilidades
um absimo de garantias.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

CORPOETICA



Permanece no devir,
Permanece no devir e intenta
forte
a permanência
que a jornada persiste
e o começo ainda
é agora.

Sem seduzir-se
pelos esbarrões,
sem criar fixação
pelas mais belas miragens,
pelas enigmáticas matemáticas,
pela umidade tórrida
das pernas desejadas,
pelo carinho das trocas
na surpresa dos encontros,
pela verticalidade almejada,
por nosso apego a gramatica
ou nossa confusão sintática.
Por tudo ou nada:
pela massa que nos amassa,
pelo ar que nos alça,
pelo fogo que em nós caça.

Sem aberrar-se com
as culpas e magoas
orgasmos e ansias
resistências e fluxos -
as crises e crases
do um corpo oculta fala.

Sem temermos nossa inconfessável
ignorância e intimidade
com nossa sombra alada.

Sem esquecer-se da festa,
quando um rasgo é o que resta.

Permanece no devir,
permanece no devir e se entrega
e integra na teia da vida,
do jogo, da fita
da trama, do drama,
da estética cinética
anti-é(di)pica
do gozo do fluxo.

:CORPOÉTICA: