terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Os últimos ritos



Um toque de veludo
a boca retorcida
o peito cheio de alfinetes
uma ansiedade calma
ou a placidez  de um furacão

A todos que vão
desejo sorte
sinto saudade
que descansem
ou despertem
se quiserem continuar
e vejam o novo
e o velho
com os olhos
de alguem que acabou
de viver uma vida inteira
e de tê-la pulsando
num peito que teve
num corpo de um jeito
que nunca mais será

E que o grande mistério lhes sirva
como uma luva
assim como
o corpo lhes servia
como mídia divina
para singular complexidade
materializada em atos
e afetos que marcaram a matéria.

Sinto aqui, no ar
no meu corpo elétrico
etéreo e efêmero
reverente à sua passagem.
Sinto em mim,
faz me sentir
como se eu estivesse simultaneamente
dentro e fora de minhas fronteiras táteis.

Rasgando o espaço
através do tempo
alterando e sendo alterado
entes inteligentes
com desenvolvidas marcas
Quando iniciam?
Quanto acabam?

O sujeito concreto
de carne, osso e opinião,
vê imenso
poder de vida liberado
quando toca o  outro lado
e sente o frágil poder
de ser encarnado
do tempo marcado
do segredo escondido de todo mortal:
o desfecho do drama,

a cortina final.

sábado, 28 de setembro de 2013




Na primeira vez em que fui 
estuprado pelo vazio
eu não gozei.
Ou talvez aquele fos-
se o único gozo 
possível para alguém como 
eu que é currado por abismos.

Desde então sou
na morte das formas
no vazio dos contornos
nessa membrana
entre o explode e o expressa
entre o vacuo do átomo
e o ar que me pesa.
Entre o desejo do relógio
e o infinito que me resta.
A critica e a pressa.

Mas ser não basta
então prescruto as besta
e faço testes
e me deito em mim
quando consigo
ou posso.

Sou só eu
esse sentir todo
que se pode me afaga
ou morde.
Sou só eu
esse universo torpe
que se goze
ou reze,
mas que o seja
quando for
seja o que.

O poeta sofredor
precisa da matéria
da dor, da pilhéria.
Precisa também conhecer
do horror de se ter no peito
um buraco negro, uma drena,
um defeito.

Ha algo no poeta
de tão pesado
acumulando massa critica
levando à implosão
do mundo no seu coração.
Há algo no poeta
que pulsa e explode e jorra
e é branco e ilumina
e que mora no seu peito
potencial totalidade da luz.

Há no poeta tanto
que há nele um poeta.
E tudo que é nele
é e é no seu oposto
pois é assim que ele vive
sintetizando impossibilidades.
Ele ousa quando dói,
se curva quando fere,
canta quando é ferido e d
escreve-se 
em toda e qualquer oportunidade
, com tinta ou voz,
sangue, chip ou celulose.
Ele não teme aquilo que é seu.
Faz do Anátema
ambiciosa generosidade.
Até o dia em que se cansa disso
então muda.
E busca e proba
e avança curioso
hora destemido,
hora temeroso
à busca do que lhe foi prometido
no momento esquecido
de seu esboço.

terça-feira, 30 de julho de 2013

O sabat das bruxas


Essa noite quando as bruxas
forem soltas em seus deleites
delirantes, eu estarei lá
para ama-las.

Para ter-me num ato súbito
perante um deus tão poderoso
que sua loucura é mudança,
é poder.

Em horrorosos gozos
as inconscientes feiticeiras
exibirão seus corpos:
delicias desesperadas.

De fato, o que todos desejavam ali,
sem saber,
era que aquele fosse realmente
o sabath das bruxas
e que se abolissem os aleijantes decoros sociais
que impedem seu Êxtase.

O que os corpos desejam
sob o poder da Lua e dos Vinhos
é nada menos que perder-se
na violência das fricções.
No mais deslumbrante horror
dos nossos corpos vivos.

Fazer como as bruxas
e urrar destemidamente sua paura.
Adentrar a noite escura
pois não há mais opção
que não
que eu e ela sejamos uma.

Sorrimos depois de tremermos,
pois estávamos diante
de um poder ancestral
e estes merecem deslumbre e terror,
não necessariamente nessa mesma ordem.

Fossem sete  os mamilos de Dioniso
e ela dançaria
com tesudo magnetismo
perante disposto e iniciado casal.
Triangulando polos.

Seu nome ali era desejo
e em seu corpo permitiu
amores clandestinos,
materializando propostas
de outras expressões do afeto.

A noite era longa,
suas disposições - indefinidas,
e  a eletricidade abastecia os olhares.
Na escuridão o ar
parecia brilhar:
era aquela força que envolvia
que o meu corpo percebia
como sente a planta o vento
pois é ele sua energia.

A noite era fria,
eu vibrava, mais que tremia.
Sob o teto e o tambor,
o calor das paixões criava um forno,
era o amor,
a redentora sabedoria dos tolos.

Celebravamos, pois era chegada a hora.
Não que razão houvesse,
embora motivos não faltassem.
Ter sangue por exemplo!
E senti-lo correr, ou ferver ou esfriar.

Ali, naqueles gritos
e nos braços buscantes de céus
a união era vivida.
Enfim! Diziam vários
sem saber,
com seus corpos suados
e sorrisos  envenenados
comunicando divino prazer.

Percebiamos o fluir noturno do poder.
e sua inevitavel acumulação
em cada corpo que gozava elevação.

Será que ela sabia
da força daquele ritual?
Aquele avatar do Jaguar,
ser melado, dos trópicos - meridional.
Se não, que estranha sensação
de onde mais viria
sua pungente força,
sua carismática agonia?

Nossas libidos faziam ninho naquele corpo
e sendo dois desejantes, -
conjunguê mistério conjuntural:
querer em dobro.

O desejado,
não sei mais
se é algo além de bandeira
pro desejo visceral
animal, que sendo primal
mais uma vez se deseja atual.