As vozes do mundo me parecem sempre tão certas, que me pergunto se deixarei um dia de ser esse tolo que sou. Fico pensando se um dia minhas frases conterão tanta certeza quanto as que vejo por ai. Mesmo nos assuntos que estudei, mesmo quando que acho que sei, ainda levo essa consciência estranha da minha tolice, da minha limitação humana.
Como eu posso fugir desse mais primordial aspecto do que me compõe? Como pode? A vida dar tantas voltas e voltar pro mesmo ponto? Como posso eu ter certeza, quando a própria certeza já me deu dez, cem mil rasteiras? Como posso ser tão rasteiro a ponto de me achar maior que o meu caminho? Como posso evitar o ponto único que me acompanha em cada etapa do meu destino? Como posso sentir-me qualquer coisa diferente daquele andarilho sorridente que não suspeita de nada? Me parece que eu só ajo como tolo na medida que me conecto com minha tolice. Só me conheço tolo, esse seminal aspecto do meu ser, quando permito-me enxergar-me como tal.
E a tolice pra mim se manifesta nesse devir mental, nessa distração intrínseca ao meu ser. Quando sinto essa estranha sensação de cada dia como primeiro dia, cada passo como primeiro passo me lembro de novo que estou tolo, que posso cair do penhasco. As vezes me lembro a todo momento, como uma obsessão que não ouso largar. Como se a consciência da minha tolice pudesse me salvar de um tropeço qualquer. Isso já me deixou louco, e louco por louco prefiro os distraídos, que a paranóia do outro pólo tem um peso fodido, difícil de segurar. Se outras horas me sinto mago, morte, diabo, lua ou sol, tento me lembrar que eu permaneço, foi o mundo quem mudou. Que eu, tolinho, continuo a caminhar pela estrada cheia de curvas que eu sei que devo trilhar.